CAPÍTULO I
BOM JESUS
1 HISTÓRICO
BOM JESUS DO ITABAPOANA E SEUS DISTRITOS
O mineiro Antônio José da Silva Nenem chegou por volta de 1842, às terras onde hoje se acha localizada a cidade de Bom Jesus do Itabapoana, terras que a ele pertenciam por título do governo, à procura de terrenos virgens, bons para tratos agrícolas. Vinha de um lugarejo de Minas Gerais - Bom Jesus da Vista Alegre- trazendo consigo esposa, dois filhos e agregados.
"Campo Alegre" foi a primeira denominação dada pelo pioneiro Silva Neném à povoação que nascia em homenagem a sua terra natal; mas logo se impôs o rio que passava pelas proximidades, com seu vale cheio de riquezas virgens, passando o povoado a chamar-se "Bom Jesus do Itabapoana", predominando este topônimo até hoje.
Em 1847, retirou-se Antônio José da Silva Neném passando a povoação, desde então, a constituir patrimônio da futura freguesia de Bom Jesus do Itabapoana.
"Em 19 de março de 1856, deliberou-se a criação de uma subdelegacia de policia no arraial do Senhor Bom Jesus, no 2º distrito da freguesia de Santo Antônio de Guarulhos, em Campos, tendo como limites: ao norte, o Rio Itabapoana; ao nascente, Santo Eduardo, desde sua junção àquele até às suas cabeceiras; ao sul, as ramificações da Serra Cayana; ao poente a Serra Cavanal, onde nasce o Rio Itabapoana.
Em 14 de novembro de 1862 foi assinado o decreto nº1.261, que estabelecia:
O arraial do Senhor Bom Jesus, na Freguesia de Nossa Senhora de Natividade, no Município de Campos, fica ereto em freguesia com a invocação do Senhor Bom Jesus do Itabapoana e terá os mesmos limites deliberados em 19 de março de 1856 para a subdelegacia de policia criada naquele arraial".1
Por força do decreto nº2.810, de 24/11/1885, Bom Jesus do Itabapoana passou à jurisdição do Município de Itaperuna, criado nesta data e por este decreto.
Em 15 de dezembro de 1887, e 04 de julho de 1889, foram criados mais dois distritos policiais, tendo o primeiro recebido a denominação de 2º distrito com sede no arraial de Santo Antônio do Rio Preto e o segundo a denominação de 3º distrito policial. A 15 de julho de 1889, o 3º distrito, recém-criado passou a denominação de Sant'Anna do Itabapoana 2.
No período republicano,24 de novembro de 1890, foi a freguesia elevada à categoria de município, devido ao progresso que se observava nesta época em suas terras, através do decreto 150 que rezava: "fica criado o município de Itabapoana com os atuais limites, tendo por sede a povoação de Bom Jesus do Itabapoana, com a denominação de Villa de Itabapoana
Proclamada a República do Brasil, que pôs fim ao Império, o Marechal Deodoro da Fonseca assumiu a direção do país e determinou para a presidência do Estado do Rio, recentemente criado, o Governador Francisco Portela. Este, na necessidade de criar uma nova conceituação administrativa no Estado, fez uma divisão, quando então foi criado o município de Itabapoana, que teve como primeiro intendente, denominação que se dava ao cargo de prefeito, o Coronel Pedroca (Pedro Gonçalves da Silva). Esta criação se deu também graças à indicação do médico Dr. Abreu Lima, amigo do Governador e grande político na região.
No dia 23 de novembro de 1891 Deodoro renunciou, passando o governo às mãos do Vice-Presidente da República, Floriano Peixoto. Com Floriano no Governo, houve várias modificações administrativas, inclusive a governadoria do Estado do Rio de Janeiro passou a ser ocupada pelo Dr. José Thomás de Porciúncula, que resolveu fazer uma nova divisão administrativa.
O Decreto número 01, de 8 de maio de 1892, no seu artigo 1º, suprimiu os municípios de Itabapoana e Natividade, conservando o de Itaperuna e o constituiu por ele e os extintos.
Desde esta época, iniciou-se uma campanha de reivindicação encabeçada por elementos influentes na região entre os quais - João Catarina, Jerônimo Batista Tavares, Francisco Teixeira de Oliveira e Pedro Gonçalves da Silva, até que esta luta surtiu efeito e, em 1937, foi marcado um plebiscito onde o povo dos distritos de Bom Jesus do Itabapoana, Sant'Anna do Itabapoana (atual Rosal) e Santo Antônio do Itabapoana (atual Calheiro) seriam ouvidos sobre a criação do Município de Bom Jesus do Itabapoana, plebiscito este não realizado em virtude do golpe de Estado, em 10 de novembro, onde o Presidente Getúlio Vargas, mergulhando o país no "Estado Novo", decretou intervenção Federal nos Estados e Municípios.
Deste modo, depois de uma longa luta política, Bom Jesus do Itabapoana reconquista sua autonomia, através de decreto-lei nº633, assinado pelo Interventor Federal, Almirante Ernani do Amaral Peixoto, neste Estado, em 14 de dezembro de 1938.
1.1 - Decreto nº633:
"O Interventor Federal do Estado do Rio de Janeiro, usando das atribuições que lhe confere o Artigo 181 - da Constituição Federal e, considerando as razões expostas pelo Departamento Estadual de Administração dos Municípios à Comissão de Estados da Divisão Administrativa do Estado, que sobre o assunto opina favoravelmente;
Considerando que, assim sendo, se faz mister a constituição de um orçamento de caráter provisório para o município recém-criado de forma a servir de base para a respectiva instalação e para modificação da previsão orçamentária do município de Itaperuna;
Considerando ainda que o município a ser instalado exige uma legislação provisória que discipline os casos correntes da elaboração das leis que competirá ao prefeito municipal nomeado baixar;
Considerando, finalmente, serem justas as apreciações do Departamento Estadual dos Municípios na exposição apresentada à Comissão de Estudos da Divisão Administrativa do Estado.
DECRETA:
Art.º 1º - Fica criado o município de Bom Jesus do Itabapoana constituído pêlos territórios de Bom Jesus do Itabapoana, Rosal, ex-Santana do Itabapoana, e Calheiros, ex-Santo Antônio do Itabapoana, todos desanexados do Município de Itaperuna.
Parágrafo Único - A sede do novo município fica sendo Bom Jesus do Itabapoana, cuja atual categoria é elevada à de cidade.
Art.º 2º - Os limites do município de Bom Jesus do Itabapoana ficam assim constituídos:
Com o Estado do Espírito Santo: Pelo Rio do Itabapoana, desde a barra do Ribeirão Varre-Sai, até o marco Carabuçu, na margem esquerda do referido rio, próximo a Santo Eduardo.
Com o município de Campos: Do marco Carabuçu, sito a margem do rio Itabapoana, em linha reta de três mil e oitocentos metros até o marco da pedra, na margem esquerda do Ribeirão Santo Eduardo, próximo da Vila do mesmo nome; daí sobe pelo Ribeirão Santo Eduardo até sua cabeceira.
Com o município de Itaperuna: Pelas serras do Tardin, São Braz, Capetinga, Bom Jardim, Himalaia Sacramento, Braúna, Arraial Novo (divisor d'água dos rios Itabapoana e Muriaé) até as cabeceiras do córrego da Grota Funda, por este abaixo até sua confluência com o ribeirão Varre-Sai e por este abaixo até sua barra no rio Itabapoana.
Parágrafo Único - As divisas interdistritais são as seguintes:
Do 1º distrito - Bom Jesus do Itabapoana:
Com o Estado do Espírito Santo, pelo rio Itabapoana, desde a barra do Pirapitinga, até o médio entre os córregos são Domingos e Pau Ferro, à margem do Itabapoana; com o 4ºdistrito, pelas vertentes do ribeirão da Liberdade, partindo do ponto médio já referido, até o alto da serra de São Braz; com o município de Itaperuna, pelas serras de São Braz, Capetinga, Bom Jardim, Himalaia, Sacramento, Braúna e Monte Verde (divisor das águas do Itabapoana e do Muriaé); daí até a cachoeira de Dona Flora de Pirapetinga, abaixo do Arraial Novo, deste ponto pela serra do Bonito, apanhando a bacia do Córrego do Cágado até a sua confluência com Pirapetinga e por este até sua barra no Itabapoana.
Do 2º distrito - Rosal (ex- Santana):
Com o Estado do Espírito Santo, pelo rio Itabapoana, desde a barra do ribeirão Varre-Sai até a barra do ribeirão Água Limpa; com o 3ºdistrito, pelas vertentes do ribeirão Água Limpa até suas cabeceiras; com o município de Itaperuna, pela Serra do Morro Azul, cabeceiras do Córrego Soledade ou Grota Funda, por este abaixo até sua confluência com o ribeirão Varre-Sai e por este até sua barra no rio de Itabapoana.
Do 3º distrito - Calheiros (ex- Santo Antônio do Itabapoana):
Com o Estado do Espírito Santo, pelo rio Itabapoana, desde a barra do córrego da Água até a barra do Pirapetinga; com o 1º distrito pelo Pirapetinga acima, até a confluência do Córrego apanhando a bacia deste; seguindo pela serra do Bonito até a cachoeira de Dona Flora, no Pirapetinga, abaixo do Arraial Novo, atravessando a dita cachoeira e apanhando a serra do Monte Verde; com o município de Itaperuna, a partir da serra do Monte Verde, seguindo por águas vertentes até as cabeceiras do córrego Água Limpa; com o 2ºdistrito, pelas linhas já descritas.
Do 4º distrito - Liberdade:
Com o Estado do Espírito Santo, do ponto médio entre os córregos de São Domingos e do Pau Ferro, pelo Itabapoana abaixo até o marco do Carabuçu; com o Município de Campos, do marco do Carabuçu, à margem do Itabapoana por uma linha de três mil e oitocentos metros até o marco da Pedra; à margem do ribeirão Santo Eduardo, nas proximidades da Vila do mesmo nome, pelo ribeirão Santo Eduardo até suas cabeceiras: daí pelas serras do Tardin, São Brás, até encontrar a divisa com o l.º distrito; pelas linhas já descritas.
Art.º 3º - O município de Bom Jesus do Itabapoana será constituído de quatro distritos na seguinte ordem:
1º- Bom Jesus do ltabapoana;2º - Calheiros, (ex- Santo Antônio do Itabapoana); 3º - Rosal, (ex- Santana do Itabapoana); 4º- Liberdade.
Art.º 4º - O município de Itaperuna ficará constituído de onze distritos na seguinte ordem:
1º - Itaperuna; 2º - Penha; 3º - Laje; 4º- Reserva;5º-Natividade;6º- Porciúncula; 7º - Varre-Sai; 8º - Santa Clara; 9º - Ouro Fino; 10º - Vista Alegre;
11º- Comendador Venâncio.
Art.º 5º - A instalação do município de Bom Jesus do Itabapoana far-se-á no dia 10 de janeiro de 1939.
Parágrafo Único - O Departamento Estadual de Administração dos Municípios providenciará imediatamente para a organização do quadro orçamentário em caráter provisório.
Art.º 6º - O prefeito de Bom Jesus do Itabapoana submeterá à apreciação do Departamento Estadual de Administração dos Municípios, dentro do primeiro trimestre de 1939, as modificações que julgar convenientes ao orçamento provisório.
Art.º 7º- No município de Bom Jesus do Itabapoana vigorará a legislação municipal do atual município de Itaperuna no que for aplicável, até serem baixados o regimento interno e códigos de posturas e tributário definitivo.
Art.º 8º - O Departamento Estadual de Administração dos municípios tomará as medidas necessárias para a instalação, competindo-lhe:
a) A divisão dos bens patrimoniais e industriais entre o município criado e aquele de que é desmembrado, atendendo sempre a situação e utilização dos ditos bens.
b) A organização dos orçamentos provisórios de receita e despesa do novo município e do de Itaperuna.
c) A fixação do "quantun" das dividas ativa e passiva que cabia receber ou pagar a cada um dos municípios, atendendo a providência de arrecadação e à natureza de despesa;
d) Fixação dos funcionários municipais, dividindo-os entre os dois municípios e promovendo entendimentos e acordos necessários para que os respectivos quadros de pessoal se enquadrem nos limites percentuais expressos na Lei Orgânica das Municipalidades.
Art.º 9º - Revogam-se as disposições em contrário."
1.2 - Ata da Instalação do Município de Bom Jesus do Itabapoana:
"A primeiro de janeiro do ano de mil e novecentos e trinta e nove, as treze horas, no edifício do Paço Municipal , nesta Cidade de Bom Jesus do Itabapoana, Estado do Rio de Janeiro, presente numerosa assistência popular, reuniram-se os Excelentíssimos Senhores Doutor José Vieira Rezende Silva, Secretário de Estado das Finanças - representando o Excelentíssimo Senhor Interventor Federal, Doutor Rubens Farrula, Secretário de Estado da Agricultura, Indústria e Comércio, Doutor Paulo Faria, representando o Excelentíssimo Senhor Secretário de Estado da Viação e Obras Públicas, Homero Lara, Delegado especial designado pelo Excelentíssimo Senhor Interventor Federal para proceder a instalação do Município, Orlando Ferreira Nunes, representando o Excelentíssimo Senhor Doutor Diretor Geral do Departamento Estadual de Administração dos Municípios, Doutor Edmundo Falcão da Silva, Diretor Geral do Departamento de Compras da Secretaria das Finanças, Coronel Romualdo Monteiro de Barros, Prefeito Municipal de Itaperuna, Coronel Fernando Lopes da Costa - oficial do Exército Nacional, Professor Doutor Teles Barbosa - professor da Academia Fluminense de Letras, digo, professor da Faculdade de Direito de Niterói e Membro da Academia Fluminense de Letras, e mais pessoas gradas que esta subscrevem,. para o fim especial de se declarar instalado o Município de Bom Jesus do Itabapoana, criado pelo decreto lei estadual de quatorze de dezembro de mil e novecentos e trinta E oito. Aberta a sessão, ao som do Hino Nacional, de pé toda a assistência, o Senhor Homero Lara, após ligeiras considerações sobre o ato, pronunciou as seguintes palavras: - "Na forma da lei, e de acordo com o que dispõe o artigo quinto do decreto número seiscentos e trinta e três de quatorze de dezembro de mil e novecentos e trinta e oito, que criou o Município, na qualidade de Delegado especial designado pelo Excelentíssimo Senhor Interventor Federal para procedê-la, declaro, neste ato, oficialmente, instalado o Município de Bom Jesus do Itabapoana, elevadas as categorias de cidade - a sua sede e de vilas as dos seus distritos. Convido o Senhor José de Oliveira Borges, Prefeito Municipal já empossado, a assumir o exercício de suas respectivas funções". Calorosas e prolongadas salvas de palmas aplaudiram a instalação do Município e festejaram a investidura do seu primeiro Prefeito, o qual tomou assento à mesa. A seguir, foi dada a palavra ao orador oficial, Senhor Doutor Columbino H. Teixeira de Siqueira, médico nesta localidade, que proferiu brilhante alocução alusiva ao ato, sendo vivamente aplaudido. - Ao declarar encerrada a sessão de instalação, o Senhor presidente convidou a assistência a ouvir a leitura da ata, a qual, depois de lida, foi por ele assinada e pelas altas autoridades e pessoas gradas presentes ao ato. - Eu, Plínio de Figueiredo Silveira, funcionando como Secretário "ad-hoc", que escrevi e procedi à leitura desta ata ao termo da sessão, cuja realização aqui se registra. Cidade de Bom Jesus do Itabapoana, primeiro de janeiro de mil novecentos e trinta e nove"
2 ASPECTO FÍSICO
2.1 - Localização:
O atual Município de Bom Jesus, antigo distrito de Itaperuna, está situado na zona fisiográfica do Muriaé, no vale do Itabapoana, achando-se a sede na margem direita, em posição de 21º08' 09" de latitude, sul e 41º40' 48" de longitude W. Gr., ocupando uma área de 576 km2. Sua altitude na sede do município é de 118 m. Limitado a leste por São João da Barra, ao norte pelo rio Itabapoana, dista da Capital do Estado, em linha reta, 254, 8 km, na direção nordeste.3
2.2 - Hidrografia:
É cortado pelo rio Itabapoana que nasce na serra do Caparaó e separa o Estado do Rio de Janeiro do Estado do Espírito Santo. Possui ainda as cachoeiras (situadas no distrito de calheiros) da Fumaça, com potência estimada em 15.000 H. P., nome originário da "poeira de água" formado em sua queda; e a cachoeira do Inferno, cujo nome origina-se do fato de a água precipitar-se de grande altura, correr por baixo de rochas e sair no leito do rio, depois de percorrer subterraneamente cerca de 10 metros 4.
2.3 - Clima:
"O clima do Município de Bom Jesus, embora quente de modo geral, é saudável, principalmente nos distritos de Rosa e Calheiros, que se destacam pela sua altitude que atinge em certos pontos 900 metros"5.
2.4- Riquezas Naturais:
Havia desfalque de madeira de Lei, as suas matas encontravam-se jequitibá, vinhático, farinha-seca, angelim-cedro, gurabu e cabiúna.
A cal constitui a principal riqueza mineral do município, sendo encontrada em maior quantidade no distrito de Bom Jesus 6.
3 SITUAÇÃO
DEMOGRÁFICAOs primeiros povoadores dedicaram-se logo ao desbravamento do local, construindo três casebres; um no chamado Porto das Pedras à entrada da ponte de cimento armado; o segundo no Largo de Santa Rita, residência de Manoel Gomes Alves, onde hoje se localiza o Colégio Rio Branco. E o terceiro, mais ou menos na esquina da rua Gonçalves da Silva com a República do Líbano onde foi morar Manoel da Silva Fernandes.
As propriedades rurais como: Barra, Soledade, Barro Branco, Fortaleza e muitas outras, começaram a surgir em 1851, com a construção da estrada para o Itabapoana, que foi o primeiro ato oficial referente a esta região 7.
Por volta de 1878, já existiam no povoado com mais de quatro mil habitantes, 64 casas, sendo 6 sobrados, 1 igreja e outra em construção.
4 ATIVIDADES
ECONÔMICAS
A economia local em 1884 era representada em 18 criadouros, 3 fazendas de cana e 157 fazendeiros de café.
Não existiam grandes propriedades, eram antes quinhões de terras exploradas pêlos trabalhadores e suas famílias.
Após a década de 30, a principal atividade econômica girava em torno do cultivo do café. A seguir vinha a açucareira. Além desses produtos, cultivavam cereais em geral, notadamente milho e arroz.
O escoamento da produção era feito pelo rio e com saída pelo Porto de Limeira, chegando a ter um movimento de 8.000 mil arrobas dos produtos. Desta franquia fluvial é que adveio a autonomia de Bom Jesus.
O comércio de Bom Jesus era constituído de 41 casas comerciais, de diversas especialidades; uma alfaiataria, uma sapataria, 3 padarias, 2 farmácias, sendo uma de propriedade do Sr. Francisco Pereira Bastos e a outra do Sr. Modesto de Andrade Camargo, que foi adquirida pelo Sr. Pedro Gonçalves da Silva. O comércio estava em franco desenvolvimento e o ponto de encontro dos homens de negócio era na Casa do Chico Pereira.
Havia também 2 salões de bilhar, e as casas comerciais que mais se destacaram na época foram a "Casa Ferreira Firmo", mais tarde "Soares e Companhia", e a tradicional "Casa Mansur" 8.
O município de Bom Jesus do Itabapoana, destacou-se no setor industrial, através da Usina Santa Maria, que passou a pertencer a Bom Jesus, juntamente com a Serrinha e a Fazenda Matinhos, quando Bom Jesus do Itabapoana se separou de Campos.
As terras da Usina Santa Maria possuíam 625 alqueires geométricos e eram de propriedade do Sr. Virgílio Basílio dos Santos e Leônidas de Abreu Lima, e possuía somente um simples engenho de açúcar, com seus tachos de evaporação e suas primitivas moendas 9.
Em 1900, André Richer, francês, entrou na organização industrial formando a firma Santos e Richer, quando se retirou da sociedade Abreu Lima. Mas a nova sociedade não alcançava êxito, então Richer, como única saída, formou com capitães franceses a "Sociaté Sucrerie Santo Eduardo", que representou um grande salto econômico para a Usina Santa Maria pois foram importados os mais modernos aparelhos, inclusive um importante conjunto de difusão, na época, se consistia no mais moderno aparelho para a extração de garapa.
A firma francesa, através de rumoroso mandato Judicial, entregou a propriedade a seus principais credores e fornecedores à Sociedade Jarah e Irmãos que vendeu a aparelhagem importada e, em 1915, passou a Usina para a Firma Coelho Fernandes e Cia. Em 1917 foi adquirida por José Carlos Pereira Pinto que conseguiu desenvolvê-la com eficiente administração.
A ata da Assembléia preparatória para a constituição da formação da Cia. Agrícola Usina Santa Maria foi redigida no dia 11/08/1923, na cidade de Campos de Goytacases, no Estado do Rio de Janeiro, no salão nobre da Associação Comercial desta cidade.12
Em 1939, possuía a Usina Santa Maria, uma população de 2.000 habitantes, uma lavoura de cana para 14 mil carros, 600 mil pés de café, colheitas de arroz, que atingia 15 mil sacas, seu paiol de milho passam 14 mil sacas e o feijão colhe de 600 a 800 sacas. Sua fábrica tinha um limite de 40.500 de açúcar, a sua destilaria produzia de 500 a 600 mil litros de álcool. Contava também com um hospital, um gabinete dentário, um cinema, uma banda de música, uma praça de esporte e uma escola funcionando.13
5 INFRA-ESTRUTURA
SOCIAL
O Hospital São Vicente de Paula foi criado em 6 de janeiro de 1925.
No dia 02/08/1936 foi fundado o Centro Popular Pró-Melhoramento de Bom Jesus do Itabapoana, e desde então tornou-se o elemento oficial das necessidades da comunidade junto aos poderes públicos do país. Em sessão solene do dia 22/11/1936 onde compareceram representantes oficiais dos Municípios de Itaperuna e São José do Calçado, o Sr. João José Teixeira de Siqueira, Presidente da Conferência Vicentina de Bom Jesus do Itabapoana, passou o imóvel do Hospital à diretoria do centro. Um ano depois em 1937, o Deputado Estadual Dr. César Ferolla, conseguiu do Sr. Interventor Federal no Estado do Rio de Janeiro, Almirante Protógenes Guimarães, a importância de 10:000$000 (Dez contos de réis), além de mais de 20:000$000 (Vinte contos de réis) de material cirúrgico, e inaugurou o novo pavilhão, onde se acham os quartos particulares, laboratório de pesquisa, farmácia, sala de esterilização e alta cirurgia. Apesar destes melhoramentos, resentia-se o hospital de uma lacuna: uma enfermaria para recolher os melhores indigentes. Assim em 1938, após inúmeros esforços, a nova enfermaria, destinada exclusivamente a crianças, era inaugurada e novos melhoramentos foram introduzidos no hospital com a construção de um novo necrotério, da lavanderia, do forno para a desinfecção de roupas, etc.
Foi uma obrigação contraída com os Vicentinos: na escritura de doação do Hospital, para assumir a direção interna e o serviço de Enfermagem do mesmo, a vinda de Irmã de Caridade. Porém, dificuldades financeiras protelaram esta medida, e assim em 1939, o Coronel João Ferreira Soares, ofereceu ao Hospital a quantia de 5:000$000 (Cinco contos de réis), para a construção do apartamento necessário para o alojamento das irmãs de caridade da Congregação de Cristo Rei que, durante muitos anos, cuidaram dos doentes internados.14
O Hospital São Vicente de Paula teve como primeiros médicos: Dr. José Vieira Seródio, Dr. Dirceu Cabral Henriques, Dr. Adhemar Pinto e contou com o trabalho gratuito dos doutores: Evandro Pires, Onofre Mendonça e César Ferolla.
O Centro Popular esteve presente e atuante no programa de desenvolvimento de Bom Jesus do Itabapoana e na luta pela emancipação do município. No dia 01/01/1939, o Centro Popular foi reconhecido como Sociedade de Utilidade Pública, através do decreto número 01, de 08/11 do ano da instalação do munícipio.15
5 2 - Educação:
O grande salto no setor educacional de Bom Jesus do Itabapoana se deu em 1920, com a fundação do "Colégio Rio Branco", pelo professor José da Costa Sobrinho.
Na Rede de ensino estadual, foi fundado o grupo Escolar Pereira Passos, que em 1934, esteve sob a direção da professora Ismênia Campos Silveira.
6 ATIVIDADES
CULTURAIS
A imprensa foi introduzida em Bom Jesus do Itabapoana pelo Coronel Pedro Gonçalves da Silva, que trouxe de Campos o ilustre Jornalista Dr. Sílvio Fontoura, fundador do primeiro Jornal na localidade, em 1906, com a denominação de "O Itabapoana". Ao mesmo tempo instalou e dirigiu o Colégio, o "Ateneu Silvio Pelico". "O Itabapoana" cessou sua publicação em dezembro de 1907 e reapareceu em 1911, com muitos melhoramentos, tendo como diretor e poeta e jornalista paraibano, Professor Menezes Wanderley, que também cria o Colégio "Quinze de Novembro".
A sociedade beneficiente "Centro Operário" foi fundada em 1904. Possuía um teatro de amadores, uma biblioteca, uma escola noturna, e mais tarde instalou e manteve o "Cinema de Bom Jesus", até o seu encerramento. A primeira diretoria do "Centro", teve como presidente Fulvio Cassarrelli, e como tesoureiro José Pinto de Fegueiredo Júnior, sendo mais tarde substituídos por Pedro Gonçalves da Silva e Francisco Teixeira de Oliveira.16
Em 1914, o futebol foi introduzido na comunidade com a criação do Olympico F. C., pelo então Tenente, depois General, Fernando Lopes da Costa.
Bom Jesus instalou seu primeiro serviço de água encanada na gestão do Prefeito Dr. Aristides Figueiredo, e o ajardinamento da praça foi na época do Dr. Alberto Calvet.
O Serviço de Correios era realizado por um estafeta, que transportava a correspondência em lombo de burro, de Boa Vista (hoje Apiacá- Estado do Espírito Santo) para a Agência Local dos Correios, que estava situada na Chácara, onde residiu por muitos anos a viúva do Sr. Gauthier Pontes Figueiredo.17
Bom Jesus teve vários Jornais como:
"O Correio Popular" (1916), "Nossa Terra" (1924), "A Cidade" (1925), "O Liberal" (1926), "O Bom Jesus Jornal" (1928), "A Voz do Povo" (1932), etc.
A primeira Capela de Bom Jesus, denominada inicialmente de "Santa Rita" e mais tarde S. Bom Jesus do Itabapoana, foi construída sob a responsabilidade do Tenente Francisco Chagas de Oliveira Franças, na Praça Amaral Peixoto, como pagamento de uma promessa.
Não se pode afirmar com exatidão a época em que foi constituída a nova Igreja, acredita-se que seja, no período de 1866 a 1881, pelo Padre José Guedes Machado, pois em 1878, o "Almanque Laemert", informava a existência de "uma pequena igreja que serve de matriz e outra de Pedra e cal em contrução.18
Em junho de 1899, quando a Bom Jesus do Itabapoana chegou o inesquecível Padre Mello, para ficar frente à Paróquia, encontrou erigido na frente da Igreja Matriz, um altíssimo cruzeiro, que foi levantado por ocasião de uma missão religiosa no século XIX. O Padre Mello, com a ajuda de oitenta homens e vinte meninos( transportou o cruzeiro para outro local, onde ficou alguns meses, para mais tarde fixar-se definitivamente no Monte Calvário, no Santuário do Cristo Rei.
O folclore de Bom Jesus tem como sua maior manifestação a festa que se realiza nos dias 13, 14 e 15 de agosto comemorando o final da colheita.
O carnaval teve sua origem com a criação do Bloco Rosa Branca do Sr. Francisco Bifano e o Bloco dos Bonecos feito pela população de baixa renda.
7 DISTRITOS DE
BOM JESUS (QUE PERTENCERAM A ITAPERUNA)
7.1 - ROSAL:
O nono distrito de Itaperuna, Sant'Ana do Itabapoana, também conhecido como Arrozal de Santana se transformou no 2º distrito de Bom Jesus, após a emancipação desse município, em 1938, com a denominação de Rosal. A mudança do nome de Arrozal para Rosal foi proposta pelo Sr. Guilherme Figueiredo, devido as lindas rosas que cresciam nos jardim das casas locais.
"Faz divisa com o Estado do Espírito Santo, pelo rio Itabapoana, desde a barra do ribeirão Varre-Sai até a barra do ribeirão Água Limpa, com Calheiros, pela Vertentes do ribeirão Água Limpa até suas cabeceiras; com o município de Itaperuna, pela Serra do Morro Azul, cabeceiras do Córrego Soledade ou Grota funda, por este abaixo até sua confluência com o ribeirão Varre-Sai e por este até sua barra no rio ltabapoana."19
O proprietário da fazenda do Morro Grande, Sr. Francisco Diniz, doou uma parte de sua fazenda para a criação da Vila de Arrozal do Sant'Ana (devido ao grande cultivo de arroz).
Rosal fabricava, em pequena quantidade, açúcar batido, aguardente, tijolos, doces e queijos caseiros.
Na época havia duas ou três casas de comércio maiores, vendendo tecidos, calçados, secos e molhados, armarinho e implementos agrícolas.
A produção era escoada através de tropas com animais de cargas e carros de bois que transitavam por um caminho cheio de atoleiros e sem definição. Mais tarde o transporte passou a ser feito também por um pequeno caminhão que transportava para Bom Jesus no máximo 20 sacos de café.20
Havia pouquíssimas casas de alvenaria, sem abastecimento de água e esgoto de caráter público. As três casas que tinham água encanada utilizavam água captada em nascentes, nos, quintais ou ali por perto.
O sistema de comunicação era feito através de estafetas que transportavam as malas de correspondência em lombo de animal, que vinham de São José do Calçado - Espírito Santo até o distrito de Rosal.21
Na sede havia uma escola Pública de D. Consuelo Minnuci e a escola mista Estadual, tendo a senhora Maria José da Costa Bastos como sua diretora e professora, e uma escola particular com vinte cinco alunos da professora Altiva Alt dos Santos.
Em 1928, quando a escolinha particular completava dois anos de funcionamento, recebeu a visita de um inspetor escolar, Dr. Jayme Memória, que visando ampliar o ensino público na região, conseguiu a nomeação da regente da escola particular, para uma escola pública, sediada numa fazenda de gado, próximo à vila, de propriedade do Sr. Abílio Sã Viana. Tal escola recebeu o nome de "Escola Mista Humaitá".22
Havia também neste distrito a famosa corporação musical "Lira 14 de Julho" dirigida pelo maestro Luiz Titto de Almeida. Ela recepcionou o Tiro de Guerra 117 e o emancipador do município, o interventor Ernani do Amaral Peixoto, em visita a Bom Jesus.
7.2- CALHEIROS:
O antigo Santo Antônio do Itabapoana era 10º distrito de Itaperuna quando em 1938, com a emancipação do município, passou a ser o 3º distrito de Bom Jesus sendo denominado Calheiros.
"Localiza-se geográfica e estrategicamente em posição privilegiada, às margens do rio Itabapoana que o separa do Estado do Espírito Santo servindo de fronteira natural, estendendo-se desde a Barra do Córrego da Água Limpa até a barra do Pirapetinga, com o 1º distrito, pelo Pirapetinga acima até a confluência do Córrego do Cágado; apanhando a bacia deste; seguindo pela serra do Bonito até a cachoeira de Dona Flora, no Pirapetinga, abaixo do Arraial Novo, atravessando a dita cachoeira e apanhando a Serra do Monte Verde, como município de Itaperuna a partir da Serra de Monte Verde, seguindo por águas vertentes até as Calheiras do Córrego da Água Limpa".23
Calheiros foi posseado por Filisberto Dutra Nicácio, em 1838; as escrituras encontram-se no cartório de 1º Oficio de Campos.
Santo Antônio do Itabapoana foi, importante centro produtor de café, além de ponto de cruzamento de rotas comerciais que ligavam o Estado de Minas Gerais ao Espírito Santo facilitando o escoamento de suas produções.
De solo fértil e clima temperado em suas terras, crescia com relativa abundância o cobiçado "ouro verde", principal riqueza do Brasil, atingindo a produção de aproximadamente 500 sacos de café, ocupando uma área cultivável de 2/3 do total.
As caravanas de comércio vindas de Minas em tropas de burro, tinham em Santo Antônio um execelente empório para negociar ou simplesmente aguardar transporte para chegar até Limeira (importante porto) e de lá encaminhar suas mercadorias com maior facilidade para exportação. Tais transações e a presença constante de forasteiros propiciaram um surto de desenvolvimento bastante considerável para a época com a instalação de armazéns, hospedarias, estrebarias, ferrarias e farmácias.
Havia uma escola estadual, de 1ª a 4ª série, com aproximadamente cinqüenta alunos, da professora Edite Camela. Em Arraial Novo, lugarejo pertencente a Calheiros, existia uma escola particular para os filhos dos fazendeiros que a construíram.24
Calheiros possuía cerca de 80 casas e uma população flutuante de aproximadamente 800 pessoas.
Havia uma Igreja Católica onde pontificou a presença do Padre João Mendes Ribeiro, mineiro oriundo da localidade de Freguesia dos Remédios, município de Barbacena.
Atualmente Calheiros é um pequeno povoado. Essa decadência deve-se a um surto epidêmico de varíola que dizimou a população, impedindo a vinda de forasteiros, situação esta agravada pela criação da Estrada de Ferro Leopoldina desviando as principais rotas comerciais.25
Nota de rodapé1 - Sinopse estatística do município de Bom Jesus do Itabapoana - 1948 - IBGE.
2 - Revista comemorativa do Centenário da Paróquia de Bom Jesus do Itabapoana.
3 - Jurandyr Pires Ferreira Enciclopédia dos municípios.
4 - IBID.
5 - IBID.
6 - Departamento Estadual de Estatística - 1958.
7 - A. S. Dutra, História do Município de Bom Jesus, Jornal A Voz do Povo, 1960.
8-A. 5. Dutra, História do Município de Bom Jesus, do Jornal A Voz do Povo.
9 - Porphírio Henriques Filho. Álbum Libertas.
12 - Diário Oficial de 1923.
13 - Op.Cit.
14 - Relatório e Balanço de 1940, Centro Popular Pró-melhoramento, Getão Odilon Diniz.
15 - IBID.
16 - A. S. Dutra, História do Município de Bom Jesus Jornal A Voz do Povo, 1960.
17 - A. S. Dutra, História do Município de Bom Jesus, Jornal A Voz do Povo, 1960.
18 - IBID.
19 - Decreto nº633 de 14/12/1938.
20- Entrevista com D. Maria Roseira das chagas.
21 - Entrevista com o Sr. Ernesto Limbreiras.
22 - Entrevista com Altiva Alt dos Santos.
23 - Decreto nº633 de 14 de dezembro de 1938.
24.- Entrevista com o Sr. Atílio Salloco
25- Entrevista com o Sr. Francisco Camargo Teixeira, pesquisador do município de Bom Jesus.
BOM JESUS
1 HISTÓRICO
BOM JESUS DO ITABAPOANA E SEUS DISTRITOS
O mineiro Antônio José da Silva Nenem chegou por volta de 1842, às terras onde hoje se acha localizada a cidade de Bom Jesus do Itabapoana, terras que a ele pertenciam por título do governo, à procura de terrenos virgens, bons para tratos agrícolas. Vinha de um lugarejo de Minas Gerais - Bom Jesus da Vista Alegre- trazendo consigo esposa, dois filhos e agregados.
"Campo Alegre" foi a primeira denominação dada pelo pioneiro Silva Neném à povoação que nascia em homenagem a sua terra natal; mas logo se impôs o rio que passava pelas proximidades, com seu vale cheio de riquezas virgens, passando o povoado a chamar-se "Bom Jesus do Itabapoana", predominando este topônimo até hoje.
Em 1847, retirou-se Antônio José da Silva Neném passando a povoação, desde então, a constituir patrimônio da futura freguesia de Bom Jesus do Itabapoana.
"Em 19 de março de 1856, deliberou-se a criação de uma subdelegacia de policia no arraial do Senhor Bom Jesus, no 2º distrito da freguesia de Santo Antônio de Guarulhos, em Campos, tendo como limites: ao norte, o Rio Itabapoana; ao nascente, Santo Eduardo, desde sua junção àquele até às suas cabeceiras; ao sul, as ramificações da Serra Cayana; ao poente a Serra Cavanal, onde nasce o Rio Itabapoana.
Em 14 de novembro de 1862 foi assinado o decreto nº1.261, que estabelecia:
O arraial do Senhor Bom Jesus, na Freguesia de Nossa Senhora de Natividade, no Município de Campos, fica ereto em freguesia com a invocação do Senhor Bom Jesus do Itabapoana e terá os mesmos limites deliberados em 19 de março de 1856 para a subdelegacia de policia criada naquele arraial".1
Por força do decreto nº2.810, de 24/11/1885, Bom Jesus do Itabapoana passou à jurisdição do Município de Itaperuna, criado nesta data e por este decreto.
Em 15 de dezembro de 1887, e 04 de julho de 1889, foram criados mais dois distritos policiais, tendo o primeiro recebido a denominação de 2º distrito com sede no arraial de Santo Antônio do Rio Preto e o segundo a denominação de 3º distrito policial. A 15 de julho de 1889, o 3º distrito, recém-criado passou a denominação de Sant'Anna do Itabapoana 2.
No período republicano,24 de novembro de 1890, foi a freguesia elevada à categoria de município, devido ao progresso que se observava nesta época em suas terras, através do decreto 150 que rezava: "fica criado o município de Itabapoana com os atuais limites, tendo por sede a povoação de Bom Jesus do Itabapoana, com a denominação de Villa de Itabapoana
Proclamada a República do Brasil, que pôs fim ao Império, o Marechal Deodoro da Fonseca assumiu a direção do país e determinou para a presidência do Estado do Rio, recentemente criado, o Governador Francisco Portela. Este, na necessidade de criar uma nova conceituação administrativa no Estado, fez uma divisão, quando então foi criado o município de Itabapoana, que teve como primeiro intendente, denominação que se dava ao cargo de prefeito, o Coronel Pedroca (Pedro Gonçalves da Silva). Esta criação se deu também graças à indicação do médico Dr. Abreu Lima, amigo do Governador e grande político na região.
No dia 23 de novembro de 1891 Deodoro renunciou, passando o governo às mãos do Vice-Presidente da República, Floriano Peixoto. Com Floriano no Governo, houve várias modificações administrativas, inclusive a governadoria do Estado do Rio de Janeiro passou a ser ocupada pelo Dr. José Thomás de Porciúncula, que resolveu fazer uma nova divisão administrativa.
O Decreto número 01, de 8 de maio de 1892, no seu artigo 1º, suprimiu os municípios de Itabapoana e Natividade, conservando o de Itaperuna e o constituiu por ele e os extintos.
Desde esta época, iniciou-se uma campanha de reivindicação encabeçada por elementos influentes na região entre os quais - João Catarina, Jerônimo Batista Tavares, Francisco Teixeira de Oliveira e Pedro Gonçalves da Silva, até que esta luta surtiu efeito e, em 1937, foi marcado um plebiscito onde o povo dos distritos de Bom Jesus do Itabapoana, Sant'Anna do Itabapoana (atual Rosal) e Santo Antônio do Itabapoana (atual Calheiro) seriam ouvidos sobre a criação do Município de Bom Jesus do Itabapoana, plebiscito este não realizado em virtude do golpe de Estado, em 10 de novembro, onde o Presidente Getúlio Vargas, mergulhando o país no "Estado Novo", decretou intervenção Federal nos Estados e Municípios.
Deste modo, depois de uma longa luta política, Bom Jesus do Itabapoana reconquista sua autonomia, através de decreto-lei nº633, assinado pelo Interventor Federal, Almirante Ernani do Amaral Peixoto, neste Estado, em 14 de dezembro de 1938.
1.1 - Decreto nº633:
"O Interventor Federal do Estado do Rio de Janeiro, usando das atribuições que lhe confere o Artigo 181 - da Constituição Federal e, considerando as razões expostas pelo Departamento Estadual de Administração dos Municípios à Comissão de Estados da Divisão Administrativa do Estado, que sobre o assunto opina favoravelmente;
Considerando que, assim sendo, se faz mister a constituição de um orçamento de caráter provisório para o município recém-criado de forma a servir de base para a respectiva instalação e para modificação da previsão orçamentária do município de Itaperuna;
Considerando ainda que o município a ser instalado exige uma legislação provisória que discipline os casos correntes da elaboração das leis que competirá ao prefeito municipal nomeado baixar;
Considerando, finalmente, serem justas as apreciações do Departamento Estadual dos Municípios na exposição apresentada à Comissão de Estudos da Divisão Administrativa do Estado.
DECRETA:
Art.º 1º - Fica criado o município de Bom Jesus do Itabapoana constituído pêlos territórios de Bom Jesus do Itabapoana, Rosal, ex-Santana do Itabapoana, e Calheiros, ex-Santo Antônio do Itabapoana, todos desanexados do Município de Itaperuna.
Parágrafo Único - A sede do novo município fica sendo Bom Jesus do Itabapoana, cuja atual categoria é elevada à de cidade.
Art.º 2º - Os limites do município de Bom Jesus do Itabapoana ficam assim constituídos:
Com o Estado do Espírito Santo: Pelo Rio do Itabapoana, desde a barra do Ribeirão Varre-Sai, até o marco Carabuçu, na margem esquerda do referido rio, próximo a Santo Eduardo.
Com o município de Campos: Do marco Carabuçu, sito a margem do rio Itabapoana, em linha reta de três mil e oitocentos metros até o marco da pedra, na margem esquerda do Ribeirão Santo Eduardo, próximo da Vila do mesmo nome; daí sobe pelo Ribeirão Santo Eduardo até sua cabeceira.
Com o município de Itaperuna: Pelas serras do Tardin, São Braz, Capetinga, Bom Jardim, Himalaia Sacramento, Braúna, Arraial Novo (divisor d'água dos rios Itabapoana e Muriaé) até as cabeceiras do córrego da Grota Funda, por este abaixo até sua confluência com o ribeirão Varre-Sai e por este abaixo até sua barra no rio Itabapoana.
Parágrafo Único - As divisas interdistritais são as seguintes:
Do 1º distrito - Bom Jesus do Itabapoana:
Com o Estado do Espírito Santo, pelo rio Itabapoana, desde a barra do Pirapitinga, até o médio entre os córregos são Domingos e Pau Ferro, à margem do Itabapoana; com o 4ºdistrito, pelas vertentes do ribeirão da Liberdade, partindo do ponto médio já referido, até o alto da serra de São Braz; com o município de Itaperuna, pelas serras de São Braz, Capetinga, Bom Jardim, Himalaia, Sacramento, Braúna e Monte Verde (divisor das águas do Itabapoana e do Muriaé); daí até a cachoeira de Dona Flora de Pirapetinga, abaixo do Arraial Novo, deste ponto pela serra do Bonito, apanhando a bacia do Córrego do Cágado até a sua confluência com Pirapetinga e por este até sua barra no Itabapoana.
Do 2º distrito - Rosal (ex- Santana):
Com o Estado do Espírito Santo, pelo rio Itabapoana, desde a barra do ribeirão Varre-Sai até a barra do ribeirão Água Limpa; com o 3ºdistrito, pelas vertentes do ribeirão Água Limpa até suas cabeceiras; com o município de Itaperuna, pela Serra do Morro Azul, cabeceiras do Córrego Soledade ou Grota Funda, por este abaixo até sua confluência com o ribeirão Varre-Sai e por este até sua barra no rio de Itabapoana.
Do 3º distrito - Calheiros (ex- Santo Antônio do Itabapoana):
Com o Estado do Espírito Santo, pelo rio Itabapoana, desde a barra do córrego da Água até a barra do Pirapetinga; com o 1º distrito pelo Pirapetinga acima, até a confluência do Córrego apanhando a bacia deste; seguindo pela serra do Bonito até a cachoeira de Dona Flora, no Pirapetinga, abaixo do Arraial Novo, atravessando a dita cachoeira e apanhando a serra do Monte Verde; com o município de Itaperuna, a partir da serra do Monte Verde, seguindo por águas vertentes até as cabeceiras do córrego Água Limpa; com o 2ºdistrito, pelas linhas já descritas.
Do 4º distrito - Liberdade:
Com o Estado do Espírito Santo, do ponto médio entre os córregos de São Domingos e do Pau Ferro, pelo Itabapoana abaixo até o marco do Carabuçu; com o Município de Campos, do marco do Carabuçu, à margem do Itabapoana por uma linha de três mil e oitocentos metros até o marco da Pedra; à margem do ribeirão Santo Eduardo, nas proximidades da Vila do mesmo nome, pelo ribeirão Santo Eduardo até suas cabeceiras: daí pelas serras do Tardin, São Brás, até encontrar a divisa com o l.º distrito; pelas linhas já descritas.
Art.º 3º - O município de Bom Jesus do Itabapoana será constituído de quatro distritos na seguinte ordem:
1º- Bom Jesus do ltabapoana;2º - Calheiros, (ex- Santo Antônio do Itabapoana); 3º - Rosal, (ex- Santana do Itabapoana); 4º- Liberdade.
Art.º 4º - O município de Itaperuna ficará constituído de onze distritos na seguinte ordem:
1º - Itaperuna; 2º - Penha; 3º - Laje; 4º- Reserva;5º-Natividade;6º- Porciúncula; 7º - Varre-Sai; 8º - Santa Clara; 9º - Ouro Fino; 10º - Vista Alegre;
11º- Comendador Venâncio.
Art.º 5º - A instalação do município de Bom Jesus do Itabapoana far-se-á no dia 10 de janeiro de 1939.
Parágrafo Único - O Departamento Estadual de Administração dos Municípios providenciará imediatamente para a organização do quadro orçamentário em caráter provisório.
Art.º 6º - O prefeito de Bom Jesus do Itabapoana submeterá à apreciação do Departamento Estadual de Administração dos Municípios, dentro do primeiro trimestre de 1939, as modificações que julgar convenientes ao orçamento provisório.
Art.º 7º- No município de Bom Jesus do Itabapoana vigorará a legislação municipal do atual município de Itaperuna no que for aplicável, até serem baixados o regimento interno e códigos de posturas e tributário definitivo.
Art.º 8º - O Departamento Estadual de Administração dos municípios tomará as medidas necessárias para a instalação, competindo-lhe:
a) A divisão dos bens patrimoniais e industriais entre o município criado e aquele de que é desmembrado, atendendo sempre a situação e utilização dos ditos bens.
b) A organização dos orçamentos provisórios de receita e despesa do novo município e do de Itaperuna.
c) A fixação do "quantun" das dividas ativa e passiva que cabia receber ou pagar a cada um dos municípios, atendendo a providência de arrecadação e à natureza de despesa;
d) Fixação dos funcionários municipais, dividindo-os entre os dois municípios e promovendo entendimentos e acordos necessários para que os respectivos quadros de pessoal se enquadrem nos limites percentuais expressos na Lei Orgânica das Municipalidades.
Art.º 9º - Revogam-se as disposições em contrário."
1.2 - Ata da Instalação do Município de Bom Jesus do Itabapoana:
"A primeiro de janeiro do ano de mil e novecentos e trinta e nove, as treze horas, no edifício do Paço Municipal , nesta Cidade de Bom Jesus do Itabapoana, Estado do Rio de Janeiro, presente numerosa assistência popular, reuniram-se os Excelentíssimos Senhores Doutor José Vieira Rezende Silva, Secretário de Estado das Finanças - representando o Excelentíssimo Senhor Interventor Federal, Doutor Rubens Farrula, Secretário de Estado da Agricultura, Indústria e Comércio, Doutor Paulo Faria, representando o Excelentíssimo Senhor Secretário de Estado da Viação e Obras Públicas, Homero Lara, Delegado especial designado pelo Excelentíssimo Senhor Interventor Federal para proceder a instalação do Município, Orlando Ferreira Nunes, representando o Excelentíssimo Senhor Doutor Diretor Geral do Departamento Estadual de Administração dos Municípios, Doutor Edmundo Falcão da Silva, Diretor Geral do Departamento de Compras da Secretaria das Finanças, Coronel Romualdo Monteiro de Barros, Prefeito Municipal de Itaperuna, Coronel Fernando Lopes da Costa - oficial do Exército Nacional, Professor Doutor Teles Barbosa - professor da Academia Fluminense de Letras, digo, professor da Faculdade de Direito de Niterói e Membro da Academia Fluminense de Letras, e mais pessoas gradas que esta subscrevem,. para o fim especial de se declarar instalado o Município de Bom Jesus do Itabapoana, criado pelo decreto lei estadual de quatorze de dezembro de mil e novecentos e trinta E oito. Aberta a sessão, ao som do Hino Nacional, de pé toda a assistência, o Senhor Homero Lara, após ligeiras considerações sobre o ato, pronunciou as seguintes palavras: - "Na forma da lei, e de acordo com o que dispõe o artigo quinto do decreto número seiscentos e trinta e três de quatorze de dezembro de mil e novecentos e trinta e oito, que criou o Município, na qualidade de Delegado especial designado pelo Excelentíssimo Senhor Interventor Federal para procedê-la, declaro, neste ato, oficialmente, instalado o Município de Bom Jesus do Itabapoana, elevadas as categorias de cidade - a sua sede e de vilas as dos seus distritos. Convido o Senhor José de Oliveira Borges, Prefeito Municipal já empossado, a assumir o exercício de suas respectivas funções". Calorosas e prolongadas salvas de palmas aplaudiram a instalação do Município e festejaram a investidura do seu primeiro Prefeito, o qual tomou assento à mesa. A seguir, foi dada a palavra ao orador oficial, Senhor Doutor Columbino H. Teixeira de Siqueira, médico nesta localidade, que proferiu brilhante alocução alusiva ao ato, sendo vivamente aplaudido. - Ao declarar encerrada a sessão de instalação, o Senhor presidente convidou a assistência a ouvir a leitura da ata, a qual, depois de lida, foi por ele assinada e pelas altas autoridades e pessoas gradas presentes ao ato. - Eu, Plínio de Figueiredo Silveira, funcionando como Secretário "ad-hoc", que escrevi e procedi à leitura desta ata ao termo da sessão, cuja realização aqui se registra. Cidade de Bom Jesus do Itabapoana, primeiro de janeiro de mil novecentos e trinta e nove"
2 ASPECTO FÍSICO
2.1 - Localização:
O atual Município de Bom Jesus, antigo distrito de Itaperuna, está situado na zona fisiográfica do Muriaé, no vale do Itabapoana, achando-se a sede na margem direita, em posição de 21º08' 09" de latitude, sul e 41º40' 48" de longitude W. Gr., ocupando uma área de 576 km2. Sua altitude na sede do município é de 118 m. Limitado a leste por São João da Barra, ao norte pelo rio Itabapoana, dista da Capital do Estado, em linha reta, 254, 8 km, na direção nordeste.3
2.2 - Hidrografia:
É cortado pelo rio Itabapoana que nasce na serra do Caparaó e separa o Estado do Rio de Janeiro do Estado do Espírito Santo. Possui ainda as cachoeiras (situadas no distrito de calheiros) da Fumaça, com potência estimada em 15.000 H. P., nome originário da "poeira de água" formado em sua queda; e a cachoeira do Inferno, cujo nome origina-se do fato de a água precipitar-se de grande altura, correr por baixo de rochas e sair no leito do rio, depois de percorrer subterraneamente cerca de 10 metros 4.
2.3 - Clima:
"O clima do Município de Bom Jesus, embora quente de modo geral, é saudável, principalmente nos distritos de Rosa e Calheiros, que se destacam pela sua altitude que atinge em certos pontos 900 metros"5.
2.4- Riquezas Naturais:
Havia desfalque de madeira de Lei, as suas matas encontravam-se jequitibá, vinhático, farinha-seca, angelim-cedro, gurabu e cabiúna.
A cal constitui a principal riqueza mineral do município, sendo encontrada em maior quantidade no distrito de Bom Jesus 6.
3 SITUAÇÃO
DEMOGRÁFICAOs primeiros povoadores dedicaram-se logo ao desbravamento do local, construindo três casebres; um no chamado Porto das Pedras à entrada da ponte de cimento armado; o segundo no Largo de Santa Rita, residência de Manoel Gomes Alves, onde hoje se localiza o Colégio Rio Branco. E o terceiro, mais ou menos na esquina da rua Gonçalves da Silva com a República do Líbano onde foi morar Manoel da Silva Fernandes.
As propriedades rurais como: Barra, Soledade, Barro Branco, Fortaleza e muitas outras, começaram a surgir em 1851, com a construção da estrada para o Itabapoana, que foi o primeiro ato oficial referente a esta região 7.
Por volta de 1878, já existiam no povoado com mais de quatro mil habitantes, 64 casas, sendo 6 sobrados, 1 igreja e outra em construção.
4 ATIVIDADES
ECONÔMICAS
A economia local em 1884 era representada em 18 criadouros, 3 fazendas de cana e 157 fazendeiros de café.
Não existiam grandes propriedades, eram antes quinhões de terras exploradas pêlos trabalhadores e suas famílias.
Após a década de 30, a principal atividade econômica girava em torno do cultivo do café. A seguir vinha a açucareira. Além desses produtos, cultivavam cereais em geral, notadamente milho e arroz.
O escoamento da produção era feito pelo rio e com saída pelo Porto de Limeira, chegando a ter um movimento de 8.000 mil arrobas dos produtos. Desta franquia fluvial é que adveio a autonomia de Bom Jesus.
O comércio de Bom Jesus era constituído de 41 casas comerciais, de diversas especialidades; uma alfaiataria, uma sapataria, 3 padarias, 2 farmácias, sendo uma de propriedade do Sr. Francisco Pereira Bastos e a outra do Sr. Modesto de Andrade Camargo, que foi adquirida pelo Sr. Pedro Gonçalves da Silva. O comércio estava em franco desenvolvimento e o ponto de encontro dos homens de negócio era na Casa do Chico Pereira.
Havia também 2 salões de bilhar, e as casas comerciais que mais se destacaram na época foram a "Casa Ferreira Firmo", mais tarde "Soares e Companhia", e a tradicional "Casa Mansur" 8.
O município de Bom Jesus do Itabapoana, destacou-se no setor industrial, através da Usina Santa Maria, que passou a pertencer a Bom Jesus, juntamente com a Serrinha e a Fazenda Matinhos, quando Bom Jesus do Itabapoana se separou de Campos.
As terras da Usina Santa Maria possuíam 625 alqueires geométricos e eram de propriedade do Sr. Virgílio Basílio dos Santos e Leônidas de Abreu Lima, e possuía somente um simples engenho de açúcar, com seus tachos de evaporação e suas primitivas moendas 9.
Em 1900, André Richer, francês, entrou na organização industrial formando a firma Santos e Richer, quando se retirou da sociedade Abreu Lima. Mas a nova sociedade não alcançava êxito, então Richer, como única saída, formou com capitães franceses a "Sociaté Sucrerie Santo Eduardo", que representou um grande salto econômico para a Usina Santa Maria pois foram importados os mais modernos aparelhos, inclusive um importante conjunto de difusão, na época, se consistia no mais moderno aparelho para a extração de garapa.
A firma francesa, através de rumoroso mandato Judicial, entregou a propriedade a seus principais credores e fornecedores à Sociedade Jarah e Irmãos que vendeu a aparelhagem importada e, em 1915, passou a Usina para a Firma Coelho Fernandes e Cia. Em 1917 foi adquirida por José Carlos Pereira Pinto que conseguiu desenvolvê-la com eficiente administração.
A ata da Assembléia preparatória para a constituição da formação da Cia. Agrícola Usina Santa Maria foi redigida no dia 11/08/1923, na cidade de Campos de Goytacases, no Estado do Rio de Janeiro, no salão nobre da Associação Comercial desta cidade.12
Em 1939, possuía a Usina Santa Maria, uma população de 2.000 habitantes, uma lavoura de cana para 14 mil carros, 600 mil pés de café, colheitas de arroz, que atingia 15 mil sacas, seu paiol de milho passam 14 mil sacas e o feijão colhe de 600 a 800 sacas. Sua fábrica tinha um limite de 40.500 de açúcar, a sua destilaria produzia de 500 a 600 mil litros de álcool. Contava também com um hospital, um gabinete dentário, um cinema, uma banda de música, uma praça de esporte e uma escola funcionando.13
5 INFRA-ESTRUTURA
SOCIAL
O Hospital São Vicente de Paula foi criado em 6 de janeiro de 1925.
No dia 02/08/1936 foi fundado o Centro Popular Pró-Melhoramento de Bom Jesus do Itabapoana, e desde então tornou-se o elemento oficial das necessidades da comunidade junto aos poderes públicos do país. Em sessão solene do dia 22/11/1936 onde compareceram representantes oficiais dos Municípios de Itaperuna e São José do Calçado, o Sr. João José Teixeira de Siqueira, Presidente da Conferência Vicentina de Bom Jesus do Itabapoana, passou o imóvel do Hospital à diretoria do centro. Um ano depois em 1937, o Deputado Estadual Dr. César Ferolla, conseguiu do Sr. Interventor Federal no Estado do Rio de Janeiro, Almirante Protógenes Guimarães, a importância de 10:000$000 (Dez contos de réis), além de mais de 20:000$000 (Vinte contos de réis) de material cirúrgico, e inaugurou o novo pavilhão, onde se acham os quartos particulares, laboratório de pesquisa, farmácia, sala de esterilização e alta cirurgia. Apesar destes melhoramentos, resentia-se o hospital de uma lacuna: uma enfermaria para recolher os melhores indigentes. Assim em 1938, após inúmeros esforços, a nova enfermaria, destinada exclusivamente a crianças, era inaugurada e novos melhoramentos foram introduzidos no hospital com a construção de um novo necrotério, da lavanderia, do forno para a desinfecção de roupas, etc.
Foi uma obrigação contraída com os Vicentinos: na escritura de doação do Hospital, para assumir a direção interna e o serviço de Enfermagem do mesmo, a vinda de Irmã de Caridade. Porém, dificuldades financeiras protelaram esta medida, e assim em 1939, o Coronel João Ferreira Soares, ofereceu ao Hospital a quantia de 5:000$000 (Cinco contos de réis), para a construção do apartamento necessário para o alojamento das irmãs de caridade da Congregação de Cristo Rei que, durante muitos anos, cuidaram dos doentes internados.14
O Hospital São Vicente de Paula teve como primeiros médicos: Dr. José Vieira Seródio, Dr. Dirceu Cabral Henriques, Dr. Adhemar Pinto e contou com o trabalho gratuito dos doutores: Evandro Pires, Onofre Mendonça e César Ferolla.
O Centro Popular esteve presente e atuante no programa de desenvolvimento de Bom Jesus do Itabapoana e na luta pela emancipação do município. No dia 01/01/1939, o Centro Popular foi reconhecido como Sociedade de Utilidade Pública, através do decreto número 01, de 08/11 do ano da instalação do munícipio.15
5 2 - Educação:
O grande salto no setor educacional de Bom Jesus do Itabapoana se deu em 1920, com a fundação do "Colégio Rio Branco", pelo professor José da Costa Sobrinho.
Na Rede de ensino estadual, foi fundado o grupo Escolar Pereira Passos, que em 1934, esteve sob a direção da professora Ismênia Campos Silveira.
6 ATIVIDADES
CULTURAIS
A imprensa foi introduzida em Bom Jesus do Itabapoana pelo Coronel Pedro Gonçalves da Silva, que trouxe de Campos o ilustre Jornalista Dr. Sílvio Fontoura, fundador do primeiro Jornal na localidade, em 1906, com a denominação de "O Itabapoana". Ao mesmo tempo instalou e dirigiu o Colégio, o "Ateneu Silvio Pelico". "O Itabapoana" cessou sua publicação em dezembro de 1907 e reapareceu em 1911, com muitos melhoramentos, tendo como diretor e poeta e jornalista paraibano, Professor Menezes Wanderley, que também cria o Colégio "Quinze de Novembro".
A sociedade beneficiente "Centro Operário" foi fundada em 1904. Possuía um teatro de amadores, uma biblioteca, uma escola noturna, e mais tarde instalou e manteve o "Cinema de Bom Jesus", até o seu encerramento. A primeira diretoria do "Centro", teve como presidente Fulvio Cassarrelli, e como tesoureiro José Pinto de Fegueiredo Júnior, sendo mais tarde substituídos por Pedro Gonçalves da Silva e Francisco Teixeira de Oliveira.16
Em 1914, o futebol foi introduzido na comunidade com a criação do Olympico F. C., pelo então Tenente, depois General, Fernando Lopes da Costa.
Bom Jesus instalou seu primeiro serviço de água encanada na gestão do Prefeito Dr. Aristides Figueiredo, e o ajardinamento da praça foi na época do Dr. Alberto Calvet.
O Serviço de Correios era realizado por um estafeta, que transportava a correspondência em lombo de burro, de Boa Vista (hoje Apiacá- Estado do Espírito Santo) para a Agência Local dos Correios, que estava situada na Chácara, onde residiu por muitos anos a viúva do Sr. Gauthier Pontes Figueiredo.17
Bom Jesus teve vários Jornais como:
"O Correio Popular" (1916), "Nossa Terra" (1924), "A Cidade" (1925), "O Liberal" (1926), "O Bom Jesus Jornal" (1928), "A Voz do Povo" (1932), etc.
A primeira Capela de Bom Jesus, denominada inicialmente de "Santa Rita" e mais tarde S. Bom Jesus do Itabapoana, foi construída sob a responsabilidade do Tenente Francisco Chagas de Oliveira Franças, na Praça Amaral Peixoto, como pagamento de uma promessa.
Não se pode afirmar com exatidão a época em que foi constituída a nova Igreja, acredita-se que seja, no período de 1866 a 1881, pelo Padre José Guedes Machado, pois em 1878, o "Almanque Laemert", informava a existência de "uma pequena igreja que serve de matriz e outra de Pedra e cal em contrução.18
Em junho de 1899, quando a Bom Jesus do Itabapoana chegou o inesquecível Padre Mello, para ficar frente à Paróquia, encontrou erigido na frente da Igreja Matriz, um altíssimo cruzeiro, que foi levantado por ocasião de uma missão religiosa no século XIX. O Padre Mello, com a ajuda de oitenta homens e vinte meninos( transportou o cruzeiro para outro local, onde ficou alguns meses, para mais tarde fixar-se definitivamente no Monte Calvário, no Santuário do Cristo Rei.
O folclore de Bom Jesus tem como sua maior manifestação a festa que se realiza nos dias 13, 14 e 15 de agosto comemorando o final da colheita.
O carnaval teve sua origem com a criação do Bloco Rosa Branca do Sr. Francisco Bifano e o Bloco dos Bonecos feito pela população de baixa renda.
7 DISTRITOS DE
BOM JESUS (QUE PERTENCERAM A ITAPERUNA)
7.1 - ROSAL:
O nono distrito de Itaperuna, Sant'Ana do Itabapoana, também conhecido como Arrozal de Santana se transformou no 2º distrito de Bom Jesus, após a emancipação desse município, em 1938, com a denominação de Rosal. A mudança do nome de Arrozal para Rosal foi proposta pelo Sr. Guilherme Figueiredo, devido as lindas rosas que cresciam nos jardim das casas locais.
"Faz divisa com o Estado do Espírito Santo, pelo rio Itabapoana, desde a barra do ribeirão Varre-Sai até a barra do ribeirão Água Limpa, com Calheiros, pela Vertentes do ribeirão Água Limpa até suas cabeceiras; com o município de Itaperuna, pela Serra do Morro Azul, cabeceiras do Córrego Soledade ou Grota funda, por este abaixo até sua confluência com o ribeirão Varre-Sai e por este até sua barra no rio ltabapoana."19
O proprietário da fazenda do Morro Grande, Sr. Francisco Diniz, doou uma parte de sua fazenda para a criação da Vila de Arrozal do Sant'Ana (devido ao grande cultivo de arroz).
Rosal fabricava, em pequena quantidade, açúcar batido, aguardente, tijolos, doces e queijos caseiros.
Na época havia duas ou três casas de comércio maiores, vendendo tecidos, calçados, secos e molhados, armarinho e implementos agrícolas.
A produção era escoada através de tropas com animais de cargas e carros de bois que transitavam por um caminho cheio de atoleiros e sem definição. Mais tarde o transporte passou a ser feito também por um pequeno caminhão que transportava para Bom Jesus no máximo 20 sacos de café.20
Havia pouquíssimas casas de alvenaria, sem abastecimento de água e esgoto de caráter público. As três casas que tinham água encanada utilizavam água captada em nascentes, nos, quintais ou ali por perto.
O sistema de comunicação era feito através de estafetas que transportavam as malas de correspondência em lombo de animal, que vinham de São José do Calçado - Espírito Santo até o distrito de Rosal.21
Na sede havia uma escola Pública de D. Consuelo Minnuci e a escola mista Estadual, tendo a senhora Maria José da Costa Bastos como sua diretora e professora, e uma escola particular com vinte cinco alunos da professora Altiva Alt dos Santos.
Em 1928, quando a escolinha particular completava dois anos de funcionamento, recebeu a visita de um inspetor escolar, Dr. Jayme Memória, que visando ampliar o ensino público na região, conseguiu a nomeação da regente da escola particular, para uma escola pública, sediada numa fazenda de gado, próximo à vila, de propriedade do Sr. Abílio Sã Viana. Tal escola recebeu o nome de "Escola Mista Humaitá".22
Havia também neste distrito a famosa corporação musical "Lira 14 de Julho" dirigida pelo maestro Luiz Titto de Almeida. Ela recepcionou o Tiro de Guerra 117 e o emancipador do município, o interventor Ernani do Amaral Peixoto, em visita a Bom Jesus.
7.2- CALHEIROS:
O antigo Santo Antônio do Itabapoana era 10º distrito de Itaperuna quando em 1938, com a emancipação do município, passou a ser o 3º distrito de Bom Jesus sendo denominado Calheiros.
"Localiza-se geográfica e estrategicamente em posição privilegiada, às margens do rio Itabapoana que o separa do Estado do Espírito Santo servindo de fronteira natural, estendendo-se desde a Barra do Córrego da Água Limpa até a barra do Pirapetinga, com o 1º distrito, pelo Pirapetinga acima até a confluência do Córrego do Cágado; apanhando a bacia deste; seguindo pela serra do Bonito até a cachoeira de Dona Flora, no Pirapetinga, abaixo do Arraial Novo, atravessando a dita cachoeira e apanhando a Serra do Monte Verde, como município de Itaperuna a partir da Serra de Monte Verde, seguindo por águas vertentes até as Calheiras do Córrego da Água Limpa".23
Calheiros foi posseado por Filisberto Dutra Nicácio, em 1838; as escrituras encontram-se no cartório de 1º Oficio de Campos.
Santo Antônio do Itabapoana foi, importante centro produtor de café, além de ponto de cruzamento de rotas comerciais que ligavam o Estado de Minas Gerais ao Espírito Santo facilitando o escoamento de suas produções.
De solo fértil e clima temperado em suas terras, crescia com relativa abundância o cobiçado "ouro verde", principal riqueza do Brasil, atingindo a produção de aproximadamente 500 sacos de café, ocupando uma área cultivável de 2/3 do total.
As caravanas de comércio vindas de Minas em tropas de burro, tinham em Santo Antônio um execelente empório para negociar ou simplesmente aguardar transporte para chegar até Limeira (importante porto) e de lá encaminhar suas mercadorias com maior facilidade para exportação. Tais transações e a presença constante de forasteiros propiciaram um surto de desenvolvimento bastante considerável para a época com a instalação de armazéns, hospedarias, estrebarias, ferrarias e farmácias.
Havia uma escola estadual, de 1ª a 4ª série, com aproximadamente cinqüenta alunos, da professora Edite Camela. Em Arraial Novo, lugarejo pertencente a Calheiros, existia uma escola particular para os filhos dos fazendeiros que a construíram.24
Calheiros possuía cerca de 80 casas e uma população flutuante de aproximadamente 800 pessoas.
Havia uma Igreja Católica onde pontificou a presença do Padre João Mendes Ribeiro, mineiro oriundo da localidade de Freguesia dos Remédios, município de Barbacena.
Atualmente Calheiros é um pequeno povoado. Essa decadência deve-se a um surto epidêmico de varíola que dizimou a população, impedindo a vinda de forasteiros, situação esta agravada pela criação da Estrada de Ferro Leopoldina desviando as principais rotas comerciais.25
Nota de rodapé1 - Sinopse estatística do município de Bom Jesus do Itabapoana - 1948 - IBGE.
2 - Revista comemorativa do Centenário da Paróquia de Bom Jesus do Itabapoana.
3 - Jurandyr Pires Ferreira Enciclopédia dos municípios.
4 - IBID.
5 - IBID.
6 - Departamento Estadual de Estatística - 1958.
7 - A. S. Dutra, História do Município de Bom Jesus, Jornal A Voz do Povo, 1960.
8-A. 5. Dutra, História do Município de Bom Jesus, do Jornal A Voz do Povo.
9 - Porphírio Henriques Filho. Álbum Libertas.
12 - Diário Oficial de 1923.
13 - Op.Cit.
14 - Relatório e Balanço de 1940, Centro Popular Pró-melhoramento, Getão Odilon Diniz.
15 - IBID.
16 - A. S. Dutra, História do Município de Bom Jesus Jornal A Voz do Povo, 1960.
17 - A. S. Dutra, História do Município de Bom Jesus, Jornal A Voz do Povo, 1960.
18 - IBID.
19 - Decreto nº633 de 14/12/1938.
20- Entrevista com D. Maria Roseira das chagas.
21 - Entrevista com o Sr. Ernesto Limbreiras.
22 - Entrevista com Altiva Alt dos Santos.
23 - Decreto nº633 de 14 de dezembro de 1938.
24.- Entrevista com o Sr. Atílio Salloco
25- Entrevista com o Sr. Francisco Camargo Teixeira, pesquisador do município de Bom Jesus.
Bom Jesus do Itabapoana-
ResponderExcluirminha cidade!
Ivone Boechat
Minha cidade é tão simples,
habitada por gente composta
de qualidades plurais,
características singulares,
daquele que vive e gosta
de viver, conviver,
amar demais.
Bom Jesus abençoou
esse pedaço de chão,
abriu seus braços imensos,
espargiu muita luz
pra iluminar o caminho
de cada cidadão;
é por isto que os lenços
que se usavam pra chorar,
viraram bandeiras de fé
apontados para a cruz,
agradecendo de pé,
pela dádiva: Bom Jesus!